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Granizo e Fogo

Nesta semana começamos a ler sobre as dez pragas impostas por Deus ao povo de Mitzraim para que o povo de Israel fosse liberto. A passagem específica que acabei de ler fala sobre granizo, a sétima praga. “Um milagre dentro de um milagre!”, exclama o comentarista medieval francês Rashi. Esta frase parece começar a explicação de algo realmente bom.

 

No entanto, Rashi está explicando a presença de fogo dentro do granizo, como é descrito pelo texto bíblico: “Fogo e granizo se misturaram, embora granizo seja água!”. Na verdade, o milagre dentro do milagre não foi algo bom, como esperado, mas algo realmente assustador. Uma tempestade de gelo e fogo juntos.

 

Seguindo os ensinamentos de Rashi, o rabino cabalista marroquino Chaim ibn Attar, também conhecido como Or haChaim, explica que a palavra hebraica מתלקחת (mitlakachat) é usada no versículo 9:24 da Parashat Vaera para nos informar que, embora água e fogo sejam opostos e um deles esteja fadado a prevalecer sobre o outro em qualquer encontro, neste caso eles demonstraram a capacidade de coexistir.

 

A imagem de uma tempestade de fogo que coexiste com granizo, água, vento e destrói tudo o que encontra: humanos, animais e plantas, traz à minha mente vários desastres naturais recentes, especialmente os incêndios recentes na Califórnia. Algo que nunca pensamos que veríamos. Imagens que pertenciam a filmes sobre o fim do mundo, não a canais de notícias sérios. Casas, empresas, memórias de vida, tudo comido pelo fogo, pela água, pelo vento. Procurando por pistas na Parashat Vaera, encontrei no capítulo 9 versículo 29: “לְמַ֣עַן תֵּדַ֔ע כִּ֥י לַיהֹוָ֖ה הָאָֽרֶץ” – para que você saiba que a terra pertence a Deus.

 

É verdade que, na criação, a terra foi dada aos humanos. No entanto, não foi um presente, mas uma responsabilidade. A terra e todos os seus seres são dados aos humanos para que cuidemos dela, para que cuidemos de toda a criação, e se não o fizermos – a terra volta para seu dono: Deus.

 

Eu certamente não estou culpando as vítimas. A culpa não é dos cidadãos de Los Angeles, ou de qualquer uma das vítimas de condições climáticas extremas ao redor do mundo. Em realidade, cabe a cada um de nós parar de ignorar os avisos dos cientistas sobre os perigos das mudanças climáticas. A responsabilidade cabe especialmente àqueles que estão no poder, que não têm vontade política de fazer as mudanças necessárias para salvar nosso mundo.

 

O Los Angeles Times explica que as rápidas mudanças entre extremos úmidos e secos estão aumentando, e um "chicote hidroclimático" contribuiu para os incêndios devastadores da Califórnia. Sem a influência das mudanças climáticas, de acordo com o jornal, os incêndios na Califórnia provavelmente teriam sido menores e mais fáceis de combater.

 

Como a praga de granizo é considerada o começo do fim para o Faraó e o povo de Mitzraim, não podemos culpar nenhuma autoridade específica pelo que está acontecendo em nosso mundo agora. "Esses problemas são consequências ou manifestações do ataque da humanidade à biosfera e da crescente perturbação dos sistemas de suporte à vida planetária." ensina o cientista Dr. David L. Goldblatt. Essas são pragas antropogênicas.

 

A mudança climática pode ser nossa sétima praga, a que precede a queda, e suas recentes demonstrações devem ser nossa deixa para desenferrujar nossos corações e agir imediatamente, em vez de esperar pela destruição e dor das três pragas restantes. Não queremos chegar à destruição do nosso futuro, simbolizada pela morte dos primogênitos.

 

Diferente da nossa parashá, quando a terra de Goshen foi protegida da praga, e do que uma postagem recente na internet sugeriu que aconteceu com uma sinagoga ortodoxa na Califórnia, os judeus estão sofrendo junto com o resto da criação com a devastação da degradação ecológica e da mudança climática. Não há proteção especial, então temos que agir e buscar proteger a criação agora mesmo, como fez a parte do povo de Mitzraim que acreditou em Deus quando foi informado sobre a sétima praga.

 

Procurar consertar os próprios hábitos ambientais pode parecer inadequado para abordar o escopo e a complexidade dos problemas. Mas é o começo. Aqui, na LJS, estamos comprometidos em reduzir nosso impacto no meio ambiente e aumentar a conscientização sobre a crise climática. A LJS está trabalhando para se tornar uma EcoSinagoga, que é uma iniciativa intercomunitária para ajudar as comunidades judaicas a se tornarem mais ambientalmente responsáveis. A mudança começa dentro de nossas casas. No entanto, nossa responsabilidade judaica é continuar a criação, é Letaken Olam, corrigir ou melhorar o mundo. Isso significa mudar nossas ações e agir para fazer as mudanças acontecerem em uma escala maior.

 

Se os corações do Faraó e seu povo já estavam endurecidos e seus caminhos já estavam comprometidos, que possamos ter corações abertos e fazer nosso trabalho sagrado conforme estabelecido desde a criação do mundo. Que possamos cuidar da criação e construir um mundo melhor para os seres humanos, para os animais, plantas e toda a criação, para viver protegidos. Que sejamos dignos de nossa responsabilidade divina.

 

Shabat Shalom.




 
 
 

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