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Contando o Tempo — Prédica para Sucot

"Encontre um momento no dia, olhe para sua comunidade e pense onde você estava há um ano."


Esse foi o conselho que meu professor e mentor, Rabino Joseph Edelheit, me deu logo antes do início de Yom Kipur. O Rabino Edelheit é um rabino experiente que caminha ao meu lado já há várias estações, me ensinando todas as coisas que a escola rabínica não ensina.


Segui seu conselho — e ali, parada naquele palco intensamente iluminado, que era nossa bimá, senti como se estivesse em uma dimensão paralela. Mas talvez seja esse mesmo o sentimento que trazemos para o Yom Kipur: uma conexão profunda conosco mesmos, com nossa comunidade e com Deus — como se nossas almas habitassem um mundo completamente diferente.


No entanto, mesmo depois que o Yom Kipur terminou, eu ainda me pegava olhando para trás — ainda me perguntando: "Onde eu estava há um ano?"


E me lembro vividamente. Era manhã de Sucot. Eu estava caminhando para a sinagoga, com o chão coberto de lindas folhas de outono, cantando uma canção de Rent:[i]

"Quinhentos e vinte e cinco mil e seiscentos minutos,

Quinhentos e vinte e cinco mil momentos tão queridos.

Quinhentos e vinte e cinco mil e seiscentos minutos —

Como você mede, mede um ano?"


Essa canção se conecta profundamente com Sucot, quando lemos duas passagens da Torá que falam sobre o tempo — sobre contá-lo, marcá-lo, santificá-lo.


Hoje, em Êxodo 23, lemos sobre a contagem do tempo através da semeadura e do descanso da terra, através do trabalho e do descanso, através das festas realizadas para Deus.


"Na luz do dia, no pôr do sol,

Na meia-noite, nas xícaras de café,

Em centímetros, em quilômetros, em risos, em conflitos —

Em quinhentos e vinte e cinco mil e seiscentos minutos,

Como você mede um ano na vida?"


Então, hoje, se você olhar para trás — onde você estava no último Sucot? Você estava esperançoso? Com medo? Começando algo novo?


Como você mede seu próprio ano — em palavras escritas, em passos dados, em noites sem dormir, em preocupações silenciosas?


"E quanto ao amor?

Meça com amor.

Estações de amor."


Na Torá, o tempo não é contado para nosso próprio benefício, mas sempre com um olhar voltado para o outro. Deixamos os necessitados — e até mesmo os animais selvagens — comerem de nossos campos. Deixamos nossos servos e nossos animais descansarem ao nosso lado. Somos chamados a agir com justiça, mesmo em relação aos nossos inimigos, como lemos anteriormente em nossa sidra.


O tempo, na Torá, é medido em momentos de relacionamento — uns com os outros e com Deus — em estações de alegria, zman simchateinu. Contamos os dias da tarde até a manhã; contamos as luas novas; contamos os anos novos (e temos quatro deles!). Contamos as oferendas e contamos as bênçãos.


Nossos sábios ensinaram, no Shulchan Aruch, que devemos recitar pelo menos cem bênçãos por dia. Como o Rabino Ed Feinstein nos lembra em sua prédica “Cultivating Hope”:

"Cem vezes por dia, paramos para agradecer — para reconhecer todos os milagres que nos mantêm vivos neste mundo."


"Quinhentos e vinte e cinco mil e seiscentos minutos,

Quinhentas e vinte e cinco mil jornadas para planejar —

Como você mede a vida de uma mulher ou de um homem?"


Ao chegarmos a Sucot, somos chamados a firmar os pés no chão, a encarar nossa fragilidade, a nos conectar com a terra e uns com os outros, e a planejar o ano que se inicia.

Colhemos os grãos que nos sustentarão. Rezamos por bom tempo — por chuva na medida certa.


Em Iamim Noraim olhamos para trás e buscamos perdão; agora, em Sukot, retornamos ao mundo, prontos para encarar a realidade — por mais difícil que seja — e planejar um futuro esperançoso.


Como a Rabina Lea nos lembrou tão lindamente ontem[ii], ainda estamos contando os dias após o terrível ataque a uma sinagoga em Manchester e os anos após os eventos horríveis de 7 de outubro em Israel.


Esta noite, aqui em nossa sinagoga, nos reuniremos para um serviço especial em memória ao pogrom de 07 de outubro — um momento para nos unirmos, para segurar juntos nossa dor e nossa esperança, lado a lado.


Nossos corações permanecem unidos aos nossos irmãos e irmãs em Israel. Nossas esperanças comunitárias permanecem as mesmas: por paz, por segurança e por força.

Mas Sucot também nos convida a fazer planos pessoais — a pensar sobre o nosso próprio tempo:

Que bênçãos esperamos contar?Pelo que queremos que nossas vidas sejam medidas?Pelo que queremos ser lembrados?


"Nas verdades que ela aprendeu,

Ou nos momentos em que ele chorou,

Nas pontes que ele queimou,

Ou na maneira como ela morreu."


Este é o momento de torná-lo real. De transformar intenções em ação. De pegar os sonhos que guardamos e transformá-los em planos. De ligar para aquela pessoa que queríamos que há tanto tempo queríamos voltar a contatar.


Esta é a época de firmar os pés no chão, encarar a realidade e escolher viver plenamente — mesmo quando a vida parece incerta ou frágil.


"Agora é hora de cantar,

Embora a história nunca termine.

Vamos celebrar, lembrar de um ano na vida de amigos.

Lembre-se do amor — você precisa se lembrar do amor.

Você sabe que o amor é uma dádiva do alto.

Compartilhe amor, dê amor, espalhe amor.

Meça sua vida em amor — estações de amor."


Quinhentos e vinte e cinco mil e seiscentos minutos.


Que possamos aproveitar este ano para plantar boas sementes, colher uma colheita abundante e fazer com que cada minuto conte como uma bênção.

Chag Sameach — Moadim leSimchah.


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[i] Jonathan D. Larson, Seasons of Love lyrics © Universal Music Corp., Finster & Lucy Music Ltd. Co.

[ii] (ouça a prédica dela se ainda não ouviu, está no site da The Ark, disponível somente em inglês)

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